domingo, abril 10, 2005

Terra de Contrastes!

A India 'e capaz dos maiores constrastes possiveis e imaginaveis que alguma vez ja presenciei nesta vida.

Ja contei que quando aqui cheguei, me colocaram na Suite presidencial do hotel Renaissance em Mumbai, como me trataram com toda mordomia possivel e imaginavel, e como nem sequer nos deixam abrir as portas aos passarmos.

Hoje, enquanto me preparava para uma massagem Tailandesa no Health Club do hotel, pedi uns chinelos ao empregado que estava no vestiario e ele nem me deixou colocar os chinelos nos pes. Para meu espanto e confesso, embaraco, o empregado ajoelhou-se e insistiu em calcar-me os chinelos.

Todas estas mordomias, ao mesmo tempo que me fazem sentir de certo modo, a viver noutro mundo, nao deixam de me chocar, depois do outro lado que ja vi aqui nesta cidade. Passo a descrever.

Ontem foi o dia em que fui fazer algumas compras para a familia. Passamos o dia a ver lojas; a regatear precos na rua; 'a cata de recordacoes. A certa altura, uma crianca, que nao devia ter mais de 6 anos colocou-se ao meu lado, durante uns 200 ou 300 metros, a implorar-me por algo de comer. Eu estava a preparar-me para o fazer, quando a secretaria da Capgemini que nos acompanhou para nos mostrar a cidade, a Priya, me impediu do o fazer. Apesar do meu protesto, ela explicou-me que se o fizesse, sem qualquer exagero, juntar-se-iam dezenas de criancas 'a minha volta a pedir-me de comer! Compreendi o porque, e continuei em frente, tentando ignorar aqueles olhos tristes, o rosto faminto, o corpo fraco, vestido apenas com uns calcoes rotos e sujos. Dificil de esquecer, essa imagem.

Mais tarde, um rapaz de uns 18 anos, magro e sujo, mas com uma enorme dignidade no rosto, veio perguntar-me se eu queria que me limpasse os sapatos, por apenas duas rupias (USD$ 0,04). Quando lhe disse que nao estava interessado, disse-me apenas que tinha fome e que nao tinha nada de comer.

Ao voltar para o hotel, no fim do dia, com as compras feitas e a sentir-me de rastos,o motorista resolveu tomar um atalho para evitarmos o transito. Confesso que nao estava preparado para o que vi. Ao lado de um canal para escoar as 'aguas nas Moncoes, estava uma cidade de lata, podre, a cair aos pedacos, com criancas sujas a brincar no chao, no meio do lixo, dos caes, e dos ratos, com poucos motivos para sorrir, sem nada com que brincar, apenas lixo. Os adultos a passar ao lado, tambem com um aspecto miseravel, magro, sem qualquer traco de esperanca nos olhos!

A imagem das minhas filhas a brincarem em Pasadena, sem que nada lhes falte, a Carolina no meio das barbies e a pedir mais alguma que viu na loja ou na televisao, etc, passou-me pela mente. Aquela visao colocou as coisas em perspectiva! Foi um "eye opener".

Ver esta imagem e as outras que vejo todos os dias aqui, ao vivo, nao e' a mesma coisa que as ver na televisao ou na revista da national geografic. Fiquei com os meus olhos humidos e embaciados, um no' na garganta e um peso enorme de consciencia.

O mais triste e' que a nossa consciencia dura pouco. Eu tenho a certeza que quando sair daqui, quando voltar para casa, com o tempo, estas imagem se desvanecerao da minha mente. Daqui a algum tempo, voltarei a olhar para as barbies na loja e a comprar aquela barbie que a Carolina quer e daqui a nada, 'a Joana tambem.

Mas quero apenas que aqui fique registado o que vi, o que senti, e as imagens da pobreza, da miseria humana que aqui se vive, quando mesmo ao lado, se vive no maior luxo e opolencia que ja' alguma vez experimentei. 'E obsceno!

3 comentários:

Anónimo disse...

talvez seja assim, mas tu estás a fazer alguma coisa para mudar esse estado de coisas, estás aí para criar emprego. mlx

Eurico Costa disse...

Tens razao, mas nao deixa de ser triste. Alem disso, estamos aqui para gerar emprego e explorar esta gente, a pagar trabalho altamente especializado, ao preco da chuva! Da' que pensar!

Anónimo disse...

Posso apenas imaginar o que uma pessoa sente numa situação dessas. Já passei por algumas situações semelhantes, quer no Brasil, quer na Republica Dominicana. Como dizes, a consciência pode manter-se em efeito mais ou menos tempo, mas tranquiliza-me saber que tento partilhar o que a minha tem de bom com o máximo número de pessoas, de todo o nível social (e feitio :-). Só assim consigo dormir à noite de consciência tranquila. Cabe a cada um partilhar a sorte que tem na vida com os outros, e ajudá-los com os seus azares. Tenho-o feito (ou pelo menos tentado) com todos os que encontro, pois sou assim. O interessante é descobrir que tantos estranham esta forma de ser, mantendo a aposta numa cegueira que resulta no egoismo de onde se alimentam desgraças alheias.

Fazer o bem passa por fazê-lo com que está perto de nós.